COMO ELE NÃO COMEU MARILEINE !!!

                                          



Estava na praia sob um sol escaldante. Sensação térmica de quarenta e cinco graus debaixo da barraca e em meio aquela sensação de que o deserto do Saara era ali, o cara vislumbrou um oásis de mulher, loira natural e naturalmente, irresistível com um fio dental preto, lindíssimo, deslumbrante, simplesmente porque quase não se via...o fio dental!
Acenou com a cabeça, esboçou um sorriso para aquela mulher lindíssima que estava deitada de bruços, olhando na sua direção. Então, ela levantou-se, também, mas em direção ao mar, como se estivesse querendo dizer:
-Olha aqui, o que, nesta vida, um homem pode desejar de melhor, numa mulher!
Ela não deveria ter feito aquilo. Ele já estava satisfeito só com as suas costas lisinhas, bronzeadas, sem um sinalzinho sequer e aqueles dois morrinhos no final, de onde saíam duas coxas roliças, e com penugens tipo pêssego. Absolutamente, gostosas. Ponto.
Loira com penugens tipo pêssego derruba e causa arritmia no mais normal dos corações masculinos.
Levantou-se também, e seguiu-a por trás, num ângulo privilegiado e ainda tomando fôlego para se acostumar com o que esperava ver pela frente.
Disse:
-Calor infernal, né?
Ela olhou para trás e falou:
-Oi, verdade. Ah toma conta das minhas coisas lá na areia?
Deu meia volta, tal qual um solícito serviçal destas grandes mansões e ocupou o território dela.
Mulher tem que saber mandar. E como ela sabia. E podia.
Ela deu uma mergulhada e aí sim de frente para aquela maravilhosa realidade, ele descobriu o novo Colosso de Rhodes com uma boca carnuda, nariz empinadinho, olhos levemente puxados cor de mel, dois seios um do lado do outro, robustos, mas comportados, sem ter passado por cortes, nem próteses de silicone, um ventre de santa, e aquele andar, tipo mexe-mexe, enfim um corpo moldado no dia mais inspirado do Homem lá de cima.
-Apanha esta tolha - e pediu com um leve sorriso de quem sabe a força do sorriso que tem.
Passou levemente no rosto, estendeu-lhe a mão e se apresentou.
-Prazer, Marileine.
Antes mesmo que ele pudesse dizer o meu nome, ela atropelou.
-Vou tomar um mate.
Aí, o extasiado serviçal deu um berro e o cara do mate veio correndo e perguntou-lhe.
-O Sr...Também toma?
Imediatamente reagiu;
-Não, e ela quem vai tomar, e disse isso olhando escancaradamente para aquele par de coxas que estavam a sua frente, pois, sentado na toalha ele tinha a impressão que o mundo era realmente, só aquele par de coxas, pois, naquele instante tinha sumido o mar, as pessoas em volta, e tudo era e tão somente, só coxas!
-Ah, também quero biscoito e deixa água de coco também - Marileine completou o pedido.
Ordenou ao cara que servisse.
O vendedor perguntou-lhe.
- E o senhor, vai comer?
Coincidentemente ouviu aquela frase que denunciava sua intenção e pensando alto balbuciou:
- Pretendo comer...
Quando o vendedor ofereceu-lhe o saco de biscoito, ele acordou e corrigiu.
-Não, mais tarde. Mais tarde, eu...talvez coma, também, o biscoito. Não quero agora.


O “também” abriu um sorriso em Marileine que nem uma garota propaganda escolhida realmente, a dedo e no sofá certo, conseguiria tal desempenho: Perfeito!
-Trabalha em que Marileine? – perguntou-lhe.
-Sou freelancer... Faço traduções.
-De qualquer língua? - Apimentou com uma inevitável vontade mórbida de agarrá-la ali mesmo
-Grego e inglês.
Antes que fizesse qualquer comentário Marileine chamou o vendedor de sorvete e pediu um picolé. Optou por chocolate crocante. Quando ela segurou no pauzinho ele viu as mãos mais delicadas e singelas, com as unhas pintadas de vermelho sensual.
Ela levou a ponta do sorvete à boca e deu uma chupada na pontinha. Ato reflexo, ele deu uma mexida na areia, parecendo ter sentido a consequência prazerosa em si, diante daquele inocente ato da sutil Marileine.
Pagou, ou melhor, continuou pagando.
-Você mora por aqui, Marileine?
-Com meus pais.
-Estuda?
-Estudei até os vinte e três.
-Então, parou há pouco tempo...
-Quatro anos.
Pronto descobrira que aquele mulheraço, tipo grande final de gala do Cirque de Soleil, tinha vinte e sete anos.
-Se formou em quê?
-Nutricionista.
Oh céus, era tudo que ele precisava! Iriam falar sobre comer, qual a melhor comida, como comer melhor, onde,e o quê, devagar, médio ou de presssinha, se chupar laranja tinha mais vitamina do que tangerina, se ela gostava de mandioca, cenoura, nabo...
Enquanto pensava estas mirabolantes e antropofágicas fantasias sensuais, passa novamente o cara do Mate. Pagou, outro. E mais um sorvete e, enfim...Continuou pagando.
Naquele momento,aquilo era melhor investimento dele.
Porém, num abrir e fechar de olhos, poucas semanas depois tudo teria mudado e sentia agora saudades de Marileine, pois, ela tinha se casado com um armador e milionário grego.


A competição foi muito desigual, pois, ele só tinha um caminhão que, até daria para levar toda aquela areia de sedução mas, reconhecia que, nos navios do grego, Marileine deveria estar sentido mais segurança e com mais espaço para servir-se e ele até esperava que ela pudesse estar sendo bem atendida, em mesas fartas de muitos e variados talheres.
Pois, enquanto, Marileine esteve com ele, naquelas poucas horas na praia nem os seus talheres ele pode apresentar, como ela merecia! Porém, quem sabe um dia ela se lembrasse dos biscoitos, mates e picolés de pauzinho servilmente pagos por ele, naquela areia da praia, na qual ele tornou-se escravo de todos os mimos e vontades dela?
E se um dia ela voltasse, enjoada do balanço da embarcação grega em alto mar, pensava ele com sonho solto e livre dos otimistas ingênuos, ela iria pagar tudo com juros e correções monetária com  muitas moedas de sexo ardente.
A única duvida que ficava, era qual a moeda aquele lindo corpo daria preferência para negociar sua poupança afetiva.
Uma dúvida cruel e que já tinha sido muito desfavorável a ele.
E com este sentimento agudo de inferioridade e perda,  sempre que voltava àquele mesmo lugar na praia e durante muito tempo,berrava enlouquecido:
-Querem que eu minta? Eu perdi,eu perdi!





4 comentários:

  1. Ô, já vi tanto histórias parecidas, Paulo! O que muda mesmo, é só o nome do desconhecido e da Marileine!!

    Beijoo'os

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  2. Pois é,SIMONE

    mas pensando bem,entre coco,picolé,mate , biscoito e um iate daqueles, a tentação é a própria tentação. (rs).

    E o desconhecido da Marileine, ainda teima em sonhar!!!

    Um abração carioca.

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  3. Tem gente que vai ler e dizer:"Bem feito! Ficou na saudade, né mané?"
    Eu lí torcendo por um gran finale.
    Que deu água na boca, deu!
    Abraços e bom fim de semana.
    vitornani.blogspot.com

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  4. VITORNANI

    mas esta água que deu na sua boca foi toda para o mar, fazer flutuar o iate do grego.

    Um abração carioca.

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